Paixão pelo ser humano


Amar o ser humano é condição essencial para a prática artística. Nesse sentido, a produção pictórica de Márcia Pinho apresenta uma poética marcada pela sensibilidade no trato da figura humana e da cidade, temas que lhe parecem mais afeitos. O primeiro motiva a reflexão sobre o que é o belo, e o segundo considera os mais diversos ambientes como locais da expressão da vivência existencial.

Nascida em Santo André, SP, em 14 de março de 1976, Márcia mergulhou no mundo da arte, em 2001,  quando mudou para São Bernardo de Campo, SP. Estimulada pelo irmão, que lhe levou uma pequena tela e tintas acrílicas, começou a criar, pintando de três a quatro quadros por dia. O passo seguinte foi frequentar museus, para observar de perto a pincelada dos mestres, e navegar pela internet em busca dos mais variados tipos de informação.

A pesquisa constante continuou nos cursos de pintura com o artista Eliane Ducatti e na Escola Arte São Paulo, onde encontrou o professor Éden Bella Jr. Assim, a pintura de Márcia Pinho ganhou um aspecto peculiar pela busca de soluções estéticas que ilustram a relação da artista com o mundo.

O resultado plástico tem fortes características expressionistas, seja pelo uso da cor, seja pela utilização da forma. A liberdade do traço, no momento de trabalhar os corpos, indica a permanente procura de caminhos estéticos de acentuada liberdade e de consciente esforço de derrubar as barreiras das mesmices.

A tendência figurativa, presente na maioria dos trabalhos, revela que o corpo é visto como um instrumento para a prática do fazer pictórico. As ousadias na cor e nas formas revelam o desejo de sempre ultrapassar as fronteiras do estabelecido em busca de paradigmas pessoais e desafiadores.

Predominam tonalidades escuras e cores puras utilizadas direto do tubo. O uso bastante peculiar da espátula torna-se o elemento diferenciador, pois oferece a possibilidade de trabalhar a tinta com um relevo bastante especial, que favorece o uso das mais variadas formas.

Além de trabalhar com tinta a óleo, Márcia Pinho realiza experiências com o uso de retalhos, bordando a tela, numa vertente experimental que confirma a inquietação que se observa na maior parte de sua obra. Talvez esse sentimento de inconformismo possa se tornar mais evidente nos conjuntos de casas que permitem uma maior experimentação de formas e cores.

Em seu universo de pessoas e imagens, Márcia Pinho constrói um mundo imagético marcado pela busca de relações entre o ser humano e o seu entorno. Não aceita respostas simples dos materiais com os quais trabalha e se debruça sobre a técnica com uma certeza poética: o ser humano, apesar de suas numerosas falhas, ainda é o começo, o meio e o fim de toda atividade artística, seja por questões técnicas, visuais ou existenciais. Tendo isso em vista, a pintura da artista surge como uma promessa de indagar, cada vez com maior vigor, a situação do homem contemporâneo perante o mundo e perante si mesmo.

Oscar D’Ambrosio, jornalista, integra a Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA-Seção Brasil) e é autor de Contando a arte de Ranchinho (Noovha América) e Os pincéis de Deus: vida e obra do pintor naïf Waldomiro de Deus (Editora Unesp e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo).

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